Por Altamiro Borges
O  DEM exibe hoje (15) o seu programa partidário em horário nobre na rádio  e televisão. Nos dez minutos de rede nacional, a sigla procura esconder  a sua grave crise e mudar a sua imagem tão desgastada. O programa, já  disponível na internet, evita ataques frontais a Lula e Dilma e enfatiza  as “propostas”. A plataforma mantém os dogmas neoliberais, mas tenta  seduzir a chamada classe média.
Diferente  do raivoso programa do PSDB, exibido no mês passado, o dos demos é mais  light. O motivo do disfarce é que a postura agressiva do DEM gerou  muitos prejuízos – com o racha e a fundação do PSD de Gilberto Kassab e a  deserção de um governador, uma senadora e quase 20 deputados federais,  além de prefeitos e vereadores. Agora, os demos se fingem de mais  civilizados.
Cinismo e mentiras descaradas
O  programa do DEM até fala do tema principal dos falsos moralistas, mais  sujos do que pau de galinheiro. Ele procura, inclusive, apropriar-se da  “marcha contra a corrupção” realizada em Brasília, no 7 de setembro. Mas  não cita os nomes do ex-presidente Lula nem da presidenta Dilma. Não  ataca, diretamente, o PT e as forças de esquerda. Tudo é dissimulado,  disfarçado.
Quanto à plataforma, o  DEM assume o legado de FHC – só para irritar o PSDB, que esconde a  herança maldita do ex-presidente. Num trecho, dos mais cômicos, afirma  que o governo demotucano deixou “a economia mais livre e mais ágil para  gerar mais empregos”. Esconde que no triste reinado de FHC o desemprego  bateu recorde e os direitos trabalhistas foram surrupiados.
Noutro  trecho, o DEM elogia as privatizações – mas nada fala sobre a corrupção  na venda das estatais, agora documentadas pelo livro “A privataria  tucana”. Os demos também se travestem de mentores dos programas sociais.  Baita hipocrisia! Por fim, a peça tenta seduzir a errática classe  média, propondo a redução de impostos, um velho bordão das elites  rentistas e bilionárias.
Josias registra a mudança
O  próprio Josias de Souza, o colunista da Folha com bastante trânsito nos  antros da direita nativa, ironizou o esforço do DEM para mudar sua  imagem. “Na peça, o partido mais afetado pela ‘onda Lula’, que engolfou  os antigovernistas nas urnas de 2010, tenta se reposicionar em cena... O  parceiro do tucanato parece mais interessado em retirar o ódio do seu  pudim”. 
“Identificado como  oposicionista raivoso, o DEM soa como se houvesse retirado das urnas um  ensinamento elementar: a raiva, sozinha, não rende votos. A legenda  dedica-se agora a exibir o que todos dizem faltar à oposição: uma  plataforma. O DEM tenta virar a página, eis a impressão que salta da  propaganda”.
“A ex-Arena fizera a  sua primeira operação plástica ao pular da arca da ditadura para o  transatlântico pluripartidário de Tancredo Neves. O ex-PFL passara por  segunda cirurgia no meio da travessia entre a Era tucana e a fase Lula.  Lipoaspirado, o DEM tenta agora saltar da maca com a cara remoçada”.  Josias, porém, acha difícil que a nova imagem dê bons frutos nas  eleições de 2012.
A decadência da sigla direitista
A  situação do DEM realmente é complicada. Apesar dos disfarces, tudo  indica que os demos rumam mesmo para o inferno – isto se o diabo deixar!  Na semana passada, a legenda fez a sua convenção nacional. Um evento  apagado, numa sala, sem o alarde do passado. Fingindo força, os demos  lançaram o senador Demóstenes Torres para disputa presidencial de 2014.  Puro jogo de cena.
Os demos  também reelegeram Agripino Maia para o comando da sigla. O senador tem  comido o pão que o diabo amassou. Além de estar enlameado com as  denúncias de corrupção contra o seu suplente no Rio Grande do Norte, ele  tenta estancar a sangria da legenda com a criação do PSD. “Àqueles que  saíram, boa viagem! O DEM vai sobreviver em nome de suas idéias porque  temos autoridade moral para combater a corrupção, porque não convivemos  com a improbidade”, esbravejou na convenção.
Ninguém  acredita – nem na probidade nem na sobrevivência da sigla. Nos últimos  meses, o DEM perdeu 17 deputados federais, uma senadora, um governador e  centenas de prefeitos e vereadores. Isto só confirma a trajetória  decadente desta agremiação da direita nativa. Basta analisar o seu  triste retrospecto:
Deputados federais eleitos pelo PFL/DEM
1998 – 105
2002 – 84
2006 – 65
2010 – 43
Prefeitos eleitos pelo PFL/DEM
2000 – 1.026
2004 – 789
2008 - 495
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